Sala de leitura é hub em escola estadual
por Fernanda Ramos Monteiro Ambiel
Tão logo participou da oficina de Stop Motion ministrada pelo editor Bernardo Brito, da produtora Brutal Magic, a professora Crélis Machado começou a engajar os alunos da Escola Estadual Professor Gabriel Ortiz para as atividades do programa sala de leitura. Eles pesquisaram sobre a técnica em busca de mais conhecimento. “Eu incentivo e estimulo os alunos a terem esse tipo de iniciativa e autonomia. Assim, deixo espaço para as ideias dos alunos aflorarem e vou mediando o trabalho, intervindo na medida necessária para não desestimular ou atrapalhar a liberdade criativa dos alunos, sempre pautada em um senso crítico construtivo”, explica a orientadora dos vídeos Pare e pense e Fonte da vida, ambos finalistas da 1ª edição das Olimpíadas Cidadãs.
Quando começaram a fazer o vídeo, os alunos responsáveis pela edição sabiam muito pouco sobre o assunto, e nenhum deles tinha qualquer experiência com a técnica de Stop Motion. Eles foram aprendendo juntos, ao longo do processo de execução do vídeo, com muita pesquisa, conforme a necessidade de aplicarem novas técnicas. Compartilharam descobertas e conhecimento.
Mais do que transmitir informações
Além da união do grupo, a Prof.ª Crélis ressaltou outros aspectos importantíssimos que compõem a turma da Sala de Leitura da escola: “Aqui nós temos diversidade. Trabalhamos com seres humanos, não importa se é negro, branco, alto ou baixo, aqui não existe preconceito. Somos um grupo que eu chamo de ‘Protagonistas Juvenis’, líderes na escola que tem autonomia para, junto comigo, fazer projetos”. Na Sala de Leitura não há nota, os estudantes participam voluntariamente e apresentam seus trabalhos para fora da escola – para a secretaria de educação, Olimpíadas Cidadãs e diversos outros projetos. “Com isso, eles adquirem respeito ao próximo, aprendem sobre convivência e interação social numa unidade escolar”, ressalta Crélis.
Segundo a professora, o projeto Sala de Leitura é o xodó, o coração da escola. E como todo coração de mãe, sempre cabe mais um. Porém, ali só entram alunos realmente interessados, pois a ideia é construir algo de útil para o grupo, para a escola e toda a comunidade escolar. Os alunos ganham conhecimento e, a escola, reconhecimento pelo trabalho desses alunos. “Mudam os alunos, há uma rotatividade, mas os que ficam é porque gostam e porque querem. Para mim, como professora e mediadora, é muito gratificante porque, nesta época digital, eu aprendo mais com eles do que eles comigo. Mas, quando tenho que intervir, eles respeitam. Eles sabem que eu sou a professora, mas que estamos aprendendo juntos. Sou muito grata por eles respeitarem a minha mediação”, diz.
O aluno Vinícius de Andrade elogia: “Esses projetos ajudam a nos comunicar melhor com a escola como um todo, não apenas a relação aluno – professor – sala de aula. Trabalhamos em equipe e não tem a ver com nota. Fazemos para a gente, para nos melhorar e melhorar a escola”.
Os participantes também destacam o aprendizado do trabalho em equipe, e a Prof.ª Crélis ressalta a importância disso para o futuro dos jovens: “Quando saírem da escola, no futuro emprego, o trabalho será sempre com os colegas. Dividir o trabalho é multiplicar o conhecimento”.
Trajetória
A professora começou a usar a tecnologia como ferramenta de ensino em 2007, com multiletramento (uso de ferramentas de mídia). “Me arrepio de lembrar. É incrível poder dar aula pra esses alunos, nesta época, com o uso de multimídias, sem caneta e papel. Celular é proibido em sala de aula, então eu digo que o aluno pode usar o celular pra produzir um texto, ler um conto, tudo através do equipamento. Faço do celular um instrumento na sala de aula. Isso é Interagir com a tecnologia, falar a linguagem do aluno”. Por isso, a professora acredita que é importante ter projetos como as Olimpíadas Cidadãs, que usem as ferramentas digitais, que já fazem parte da vida dos alunos, para fazer algo útil para a escola e para os próprios estudantes: “A ideia é ter aluno dentro da escola, fazer com que ele queira estar aqui. Não é escola integral, mas sim fazer com que eles fiquem aqui o maior tempo possível aprendendo”.
Por fim, a Prof.ª Crélis destacou o sentimento de pertencimento dos alunos com o projeto: nós somos uma verdadeira família, um aprendendo a conviver com o outro e com as diferenças do outro, e é isso que vai fazer diferença, futuramente, na vida toda deles, inclusive profissional: saber conviver. O grande aprendizado do trabalho em grupo é que não há o melhor ou o pior, cada um tem seu dedo de contribuição e sua habilidade”. Vinícius de Andrade completa, sintetizando o sentimento de todos: “É a Grande Família do Gabriel Ortiz.”